O Dicas de Leitura dessa semana começa com uma pergunta: Você tem interesse pela cultura africana e pelas mulheres que construíram essa história?!
Sea resposta for sim, você pode
encontrar diversas histórias de heroínas africanas no livro Princesas
Africanas, uma obra composta por diversos contos assinados por vários autores.
“Além
de Anastácia, tivemos no Brasil a
princesa
Alafiá, que veio para nosso país em
um
navio negreiro junto com sua família e
muitos
irmãos negros, sequestrados do reino
de
Daomé, um reino africano situado onde
agora é
o Benin. Naquela época, ela tinha
apenas
doze anos de idade. No Brasil, foi
viver
numa fazenda, onde foi mucama de
uma
sinhazinha. Sempre quando conseguia,
Alafiá
ia à senzala ver se algum de seus
irmãos
negros necessitava ajuda, mas a liberdade
era
tudo o que seu povo mais queria...”
Trecho
do livro
Para ter acesso ao livro na íntegra e de graça, clique AQUI.
Já se passaram dois meses do desaparecimento do Amarildo, ele era tantas coisas, tinha tantas funções importantes para sua família e amigos, que não temos como descrever ele apenas como esposo ou pai. Por dois meses, a família vem sofrendo a procura do corpo, já sabendo que a UPP da Rosinha, não o prendeu e sim executou.
Com relatos verdadeiros, e de pessoas que buscam por resposta, foi lançado o documentário "Eu, um Amarildo", realizado no Rio de Janeiro com direção e edição de Rômulo Cyríaco, as imagens esclarece o que aconteceu com Amarildo no inicio da abordagem dos policiais da UPP da Rocinha, e a violência policial que família dele vinha sofrendo, e sofreu após o desaparecimento.
Importante perceber, que em todo o momento, a família do Amarildo não só pergunta por ele, mais pelos tantos que somem a cada dia na Rocinha, e a forma que a UPP vem (des)tratando os moradores, relatam que um verdadeira guerra começou com a chegada da Unidades de Policia Pacificadora, e como fala o mestre Ba Kimbuta "Pacifica com tiro não dá para crêr...". Já é mais que na hora de dialogarmos sobre o papel que a policia vem desempenhando no Brasil, a toda a chacina contra o povo preto, não só no Rio de Janeiro mas em todo os outros estados, cada dia lutamos para sobreviver, porque viver tornou privilegio de poucas pessoas, estamos sujeitos a essa situação, somos pretos, somos pobres, trabalhadores e moramos nas favelas, somos Amarildos.
Assista, compartilhe nas redes sociais, repasse na escola/faculdade/cursinho, vamos continuar gritando e incomodando o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, queremos uma resposta, a família do Amarildo precisa de uma resposta... Onde está o Amarildo?
Link para assistir o documentário "Eu, um Amarildo"
*Tradução do artigo Why Black Dolls Matter por Mabia Barros para o Blogueiras Negras
Quando era uma garotinha, Samantha Knowles nunca parou para pensar porque a maioria das bonecas que possuia – American Girl (tem bonecas como a nossa Amiguinha e outros modelos de bebê), Cabbage Patch Kids
(são como a Moranguinho), Barbie – eram negras como ela. Mas bonecas
negras não eram muito comuns na sua terra natal, o norte do estado de
Nova York, cuja população continua avassaladoramente branca. Então
quando Samantha tinha oito anos, uma de suas amigas inocentemente a
perguntou “Porque você tem bonecas negras?”. E ela não soube bem o que
responder.
Mas a pergunta marcou a garota e, na faculdade, ela começou a pensar
como ela deveria responder à essa pergunta agora adulta. Finalmente,
como uma graduanda em cinema na Universidade Darthmouth, ela conheceu um
grupo pequeno mas apaixonado de entusiastas das bonecas negras que
costumam colecionar e expor bonecas por todos os Estados Unidos, e para a
sua monografia, Knowles, então com 22 anos, concluiu o documentário
chamado “Why Do You Have Black Dolls?” (Por que você tem uma boneca negra? – em tradução livre) para articular a resposta.
O que a cineasta do Brooklyn não sabia é que sua mãe queria tanto que
as filhas, Samantha e Jillian, tivessem bonecas de sua própria raça,
que ela enfrentou longas filas nas lojas e fez encomendas para garantir
que ela conseguisse uma das poucas versões negras disponíveis no
mercado. “Meus pais fizeram questão de nos dar um monte de bonecas
negras com uma gama enorme de estilos e formas”, diz Samantha Knowles.
“Nós não tivemos apenas bonecas negras, mas a maioria delas era negra.
Depois de começar a trabalhar no filme eu conversei muito com minha mãe e
ela dizia ‘Ah, você não imagina o que eu tive que fazer para conseguir
algumas dessas bonecas!"
Muitas das entusiastas das bonecas negras, como Debbie Behan Garrett,
autora do livro “Bonecas negras: Um Guia Completo para Celebrar,
Colecionar e Experimentar a Paixão” (“Black Dolls: A Comprehensive Guide
to Celebrating, Collecting, and Experiencing the Passion” – sem
tradução no Brasil) sente o mesmo que a mãe de Samantha.
“Sou categórica sobre uma criança negra dever ter uma boneca que
reflita quem ela é”, diz Garret. “Quando uma criança pequena está
brincando com uma boneca, ela está imitando ser mãe, imitando o que vê
em casa, e nos seus mais tenros e impressionáveis anos, eu quero que a
criança entenda que não há nada de errado em ser negra. Se as crianças
negras são forçadas a acreditar que a pele branca é melhor, ou que seja
apenas a ela que tenham acesso, então elas podem começar a se perguntar
‘O que há de errado comigo?’”
O documentário de Samantha Knowles estreou em outubro passado no Reel Sisters of the Diaspora Film Festival
na cidade de Nova York, onde ganhou o prêmio Reel Sisters Spirit. No
filme, a criadora de bonecas Debra Wright diz que quando as garotinhas
veem suas bonecas, elas gritam felizes “Olha só o cabelo dela! É
igualzinho ao meu.”
Pesquisas mostram que este ponto de vista sobre bonecas é real. Em
1939 e 1940, os psicólogos negros Kenneth e Mamie Clark conduziram um
estudo em que eles mostravam a crianças negras duas bonecas, quase
idênticas, exceto que uma era branca, tinha cabelos louros e olhos azuis
e a outra tinha pele negra e cabelo preto. Os pesquisadores perguntaram
às crianças qual das bonecas era legal, qual das bonecas era bonita,
qual das bonecas era inteligente, qual das bonecas elas preferiam
brincar, etc., e as crianças majoritariamente escolheram a boneca branca
como a que tinha atributos positivos.
Quando a estudante de cinema Kiri Davis conduziu um estudo semelhante com bonecas em 2005 e quando a CNN perguntou
a crianças negras sobre desenhos com várias cores de pele em 2010,
ambos tiveram um resultado quase idêntico ao estudo de 1940. Mas em
2009, quando foi feito uma réplica do estudo original pelo programa da
ABC, Good Morning America, este mostrou mais crianças negras preferindo bonecas negras.
O filme entrevistou uma mulher chamada Debra Britt, que era a única
garota negra na sua escola na cidade de Dorchester, Massachusetts nos
anos 1950, e que cresceu cuidando de uma boneca bebê branca. Então a avó
de Britt se intrometeu e começou a pintar bonecas brancas de marrom
para a sua neta, além de ensinar como fazer bonecas africanas de tecido
utilizando cabaças e maçãs. “Minha avó vivia repetindo ‘Você não sabe
de onde vem e precisa saber.’” Diz Debra. “E então ela me fez uma boneca
de pano africana (inspirada em divindades femininas) e me contou a
história da população negra.” Hoje em dia Britt comanda o Museu Nacional
da Boneca Negra.
Bonecas – feitas à mão para parecer com as crianças que as amam ou
com as divindades que seus pais adoravam – são encontradas por todo o
mundo, em todas as culturas, todas as raças, desde tempos remotos. Na
América (EUA) primitiva, todos, incluindo os escravos, faziam suas
próprias bonecas. Nas grandes fazendas do sul, escravos deixavam que
seus filhos colocassem um seixo em seus bonecos para representar cada
medo ou preocupação e aliviá-los do peso de suas rotinas.
As primeiras bonecas manufaturadas em meados de 1800 foram produzidas
na Alemanha e na França, países que dominaram a industrialização de
bonecas de porcelana e biscuit no mundo ocidental por décadas. Mesmo as
primeiras bonecas norte-americanas tinham cabeças e mãos produzidas na
Alemanha.
Não surpreende, então, que o ideal de beleza branco
aristocrático da Europa tenha monopolizado o mundo das bonecas, apesar
de ocasionalmente bonecas negras aparecerem entre as “belezas exóticas”
de dançarinas ou personagens de ópera. Apesar de os escravos terem sido
libertos em 1860 nos Estados Unidos, a maioria das famílias negras não
podiam pagar pelas bonecas de porcelana europeias, que eram um item de
luxo disponível para os muito ricos.
Os objetos que representam caricaturas racistas hoje conhecidas como
“blackamore” ou “black Americana” cresceram no pós-guerra civil com os
shows dos chamados “black faces”, onde afro-americanos eram mostrados
como simplórios, com cabeças grandes parecidas com melancias achatadas,
olhos arregalados e lábios vermelhos bem grandes. Essas caricaturas
foram parar em livros infantis, como a série britânica “Golliwogg”, que
continha várias black faces, que inclusive se transformaram em bonecos. A
empresa de bonecos e livros infantis The Nancy Ann Storybook Doll Company fez personagens da história “A cabana de tio Tom” e a Reliable Doll Company foi uma das muitas que fez a Topsy, cuja característica principal era três nós de cabelo.
Mas ainda em 1910, ativistas precursores dos direitos civis Marcus
Garvey e R.H. Boyd estavam brigando contra estes estereótipos. Boyd
começou a sua companhia nacional da boneca negra (National Negro Doll Company) em 1911, importando porcelana fina europeia na cor marrom e vendendo nos Estados Unidos até que a empresa faliu em 1915.
O final da 2ª Guerra Mundial levou aos Estados Unidos um boom de
empresas de produção de plástico desenvolvido durante a guerra. De
repente, bonecas de vinil e plástico duro eram baratas e fáceis de
produzir nas fábricas. Mas para a produção em massa de bonecas de
plástico era tão simplificada que, para os empresários, fazer moldes
especiais com características afro-americanas era um custo
desnecessário. É por isso que as bonecas de plástico e vinil eram
brancas. As bonecas negras que eram vendidas por empresas como Horsman
ou Terri Lee
eram na maior parte das vezes bonecas brancas pintadas de marrom. “Você
não podia olhar para a boneca e classificar como uma representação
verdadeira de uma pessoa negra”, diz Garret. “Por que era apenas uma
versão marrom de uma boneca branca.”
A única exceção para a regra da boneca branca pintada de marrom nos
anos 1950 era a Sara Lee, que foi criada por uma mulher branca chamada
Sara Lee Creech, que tirou mais de 500 fotografias de crianças negras
para que a sua boneca tivesse o rosto correto. Ideal Toy Company
vendeu a boneca de vinil entre 1951 e 1953, mas estas são quase
impossíveis de achar agora.
A boneca de vinil mais famosa, Barbie, que
apareceu para o mundo em 1959, ganhou uma prima chamada Francie em 1966,
explica Britt. Em 1967 a Mattel produziu a boneca Francie como uma
mulher negra, mas ela não vendeu bem. Em 1968 a Mattel fez outra boneca
negra, Christie, provavelmente feita por uma alteração no molde da amiga
branca da Barbie menos glamorosa, Midge, que foi aceita como
companheira da Barbie. Em 1969 eles apresentaram a Julia, inspirada no
programa de TV “Julia”, em que Diahann Carroll interpretava uma
enfermeira negra viúva. Foi só em 1979 que a Mattel se sentiu segura o
suficiente para lançar uma Barbie oficial com a pele negra.
Desde a década de 1990, opções para pais que queiram comprar bonecas
negras para suas filhas tem sido levemente estreitas. Houveram alguns
esforços nobres, incluindo a Big Beautifil Doll, a primeira boneca gorda (full-figured), criada por Georgette Taylor e Audrey Bell em 1999; o desiner negro Byron Lars do African American Barbies, para a coleção de Barbies negras feitas entre 1997 e 2010; e a linha So In Style da Stacey McBride-Irby para a Mattel, lançada em 2009. Stacey passou a lançar o The One World Doll Project, com bonecas para brincar e para exposição multiculturais. Já em 2003, Salome Yilma liderou a fundação das EthiDolls,
que eram feitas baseadas na imagem de mulheres africanas que foram
líderes históricas e vinham com um verdadeiro livro com histórias de
vida.
O museu de bonecas negras (The Black Doll Museum) utiliza
bonecas para educar os visitantes sobre os momentos sofríveis e os
inspiradores na história negra americana, que contém lições para
americanos de qualquer raça. A mensagem é similar a do documentário de
Samantha Knowles, “Why Do You Have Black Dolls?”: Porque bonecas nos
dizem quem somos.
Hoje no Dicas de Leitura compartilhamos com vocês o livro que ganhamos de presente do Coletivo Mujeres Creando em nossa ida ao Perú em março desse ano, intitulado "Sexo, Placer y Sexualidade - Manual para conecer tu sexualidad por ti mesma" (Sexo, Prazer e sexualidade- Manual para conhecer tua sexualidade por você mesma). No livro, as autoras Julieta Paredes e Maria Galindo conversam de forma natural e realista sobre a sexualidade, como um ponto muito sensível em cada ser humano, razão pela qual o racismo, o condicionamento cultural, as normas de gênero e o machismo,estão presentes nas experiências do nosso próprio corpo, sendo esses os motivos que destacam nós, mulheres como rebelde e subvertida, quando conhecemos nosso funcionamento.
Sobre as autoras
Julieta Paredes e Maria Galindo, ambas psicologas, militantes feministas, investigadoras, poetisas e integrantes do movimento autônomo feministas Mujeres Creando, que atuam ativamente na Bolívia.
"Este livro é uma informação caderno e obra de auto-ajuda sobre o tema da sexualidade das mulheres" , explica Juliera Paredes, o livro esta no idioma de origem das escritoras, espanhol, mas a leitura é fácil, por não conter termos técnicos, é possível ler e compreende-lo claramente."O Comunidad Mujeres Creando tem diversas publicações e grandes trabalhos ativistas com base no feminismo comunitário, feito por mulheres de idades diferentes, mas de realidades bem semelhantes.
Caíram muitas folhas, muitas pétalas, e muitas ervas
daninha queriam nos sufocar! Agora chegou nossa estação!!!
Aprimaveraé a estação do ano que se segue ao Invernoe precede o Verão. É tipicamente associada ao reflorescimentoda florae da faunaterrestres. No hemisfério sul é chamado
de “Primavera austral”, e tem início a 22 de setembroe termina a 21 de dezembro.
E esse reflorescimento acontece ainda mais rápido
em nosso Coletivo, hoje tem reunião decisiva da equipe de produção do FloreSendo
Ideias – Juventude, Hip Hop e outras Conversas. Isso mesmo, reunião do Coletivo
Flores Crew e Coletivo Primeiro Degrau nosso grande parceiro.
Nossa Primavera Astral promete muitas novidades, e
muita energia positiva, se liga no nosso blog e acompanhe o andamento do evento
mais florido de Pernambuco.
O Dicas de Leitura dessa
semana trás o romance produzido por uma dos grandes ícones do Hip Hop brasileiroA Sociedade do
Código de Barra - Preto Ghóez nos brinda com um romance que confirma
que nós somos do tamanho de nossa aspiração.
Sobre o Autor
Muitos passaram a conhecer Preto Ghóez após divulgação do prêmio que leva o nome do rapper maranhense –
morto aos 33 anos de acidente de trânsito em Itajaí, Santa Catarina, dia 10 de
setembro de 2004. Márcio Vicente Góis, o Preto Ghoez, dizia ter iniciado sua
atuação influenciada pelas músicas dos Racionais MC e pela biografia de Malcolm
X (com cujo nome batizou seu filho).
Dentro do hip hop, militou por oito anos, a partir de 1993, no Quilombo
Urbano, de São Luís (MA), uma das organizações mais politizadas e atuantes do
movimento, e fez parte de vários outros grupos, como o Skina e o Milícia
Neopalmarina. Mais recentemente, estava no Clã Nordestino, lançando o CD “A
peste negra do Nordeste”.
Sintonizado com vários aspectos da vida do país, Ghoez estava finalizando
o livro Sociedade de barra e articulando o MHHOB (Movimento Hip Hop Organizado
do Brasil), além de militar no Favelafro, uma organização que surgiu de uma
ruptura – provocada por questões políticas fonográficas – de parte do Quilombo
Urbano e do Clã Nordestino.
Preto Ghóez – Clã Nordestino – Todo Ódio a Burguesia
Uma das últimas iniciativas de Ghoez foi a participação em uma reunião
com Lula e outras expressões do hip hop, no início do ano, que provocou uma
série de críticas de setores contrários ao atrelamento do movimento aos
projetos do governo e abriram uma intensa polêmica sobre o tema.
Polêmicas que, contudo, não fizeram com que fosse esquecida sua
importante atuação guerreira na construção do hip hop e na organização da
juventude negra e favelada na luta tanto contra o racismo quanto contra o
sistema. Preto Ghóez era ativista cultural e social e, depois de ter tido uma
infância difícil e ter passado pela FEBEM, construiu um movimento a partir de
sua música, o Hip-Hop.
Vocalista do grupo Clã Nordetino, uma das organizações nacionais do
setor. Foi idealizador, em parceria com o MinC, do projeto Fome de Livro na
Quebrada e participava de um grupo de trabalho a fim de desenvolver parcerias
entre o governo e o Movimento Hip hop.
O diálogo cultural africano, travado na obra Kirikou
e a Feiticeira, de Michel Ocelot, pode ser interpretado numa dimensão mais
ampla, no tempo e no espaço, estendendo-se até nossos dias e a todos os
continentes. Nas personagens principais, podemos observar as conseqüências dos
atos masculinos incutidos nas mulheres. Temos duas visões divergentes (da mãe
de Kirikou e da feiticeira Karabá) que, porém, apontam para o mesmo objetivo: a
afirmação feminina enquanto indivíduo livre e independente.
Considerando a visão de Michelle Perrot, em sua obra
"Les femmes et les silences de l'Histoire" [1], observamos que a
História das mulheres foi sempre contada sob o ponto de vista do homem. O que
se tem de menos influenciada é a oralidade privada, domínio em que as mulheres
sempre puderam interferir e o fizeram de maneira marcante junto aos filhos e às
crianças em geral [2]. "A memória das mulheres é verbo. Ela está ligada à
oralidade das sociedades tradicionais que lhes confiavam a missão de narradoras
da comunidade do vilarejo." (PERROT, 1998, p. 17). [3]
Constataremos isso na mãe de Kirikou, primeira
personagem da qual falaremos. Algumas vezes definida como dócil, silenciosa e,
justamente por isso, fraca é, na verdade, a mulher que define todo o enredo, a
que produz o Herói, não somente por tê-lo gerado, mas pela maneira como se
refere a ele.
Desde o momento do parto, a mãe ordenou que ele
nascesse e se lavasse sozinho, dando mostras de que o Herói, para sê-lo,
precisa ser independente. A própria independência que ela adquirira, mesmo
fazendo parte de uma sociedade com papéis estritamente bem definidos entre o
homem e a mulher. Daí, podemos extrair, também, que vivendo sozinha e seu
marido tendo sido "roubado" pela feiticeira, ela desenvolveu atitudes
ditas "masculinas", como a administração de sua tenda, de seu filho,
sem interferências diretamente externas.
Poderíamos dizer que ela não se preocupava com a
opinião alheia. O modo com que pensava e agia demonstrava a inteligência e a
sapiência obtida pela experiência de vida. Era preciso sobreviver, tornar-se
uma Heroína, com todas as características de uma mulher forte, contrariamente
ao que se observa, por leigos, num primeiro olhar.
[Veja também: Plano de aula - Kiriku e a Feiticeira]
Assim, a personagem identifica-se com as mulheres do
dia-a-dia, ditas "comuns", que cuidam da casa, preparam a comida,
educam os filhos com sabedoria, calma, interiorizando os acontecimentos para
que deles tirem a lição de vida. Sensatas e decididas. Mulheres abandonadas
pelos cônjuges, viúvas, sozinhas ou, ainda, as "viúvas de maridos
vivos". [4] Todas que, de uma forma ou de outra, não entregam-se às
adversidades, mas as controlam para que sejam vencedoras.
Até na hora do nascimento de Kirikou, ou do instante
em que pensou que ele morreu, o semblante da mãe era sereno e firme. Além
disso, a primeira pessoa de quem ela falou para o filho foi de Karabá, a
feiticeira, mostrando que não temia os inimigos e insinuando que ele era o
"enviado" para salvar a aldeia. A idéia geral é que ele tem uma
missão, podemos compará-la à de Jesus [5], onde a reação materna não difere
muito da de Maria, no intuito de passar a idéia de que as mães devem, sempre,
usar de sensatez, sabedoria e aceitação, sem esquecer, ainda, a preciosidade do
silêncio.
Kirikou, logo após a vir ao mundo, questionou a mãe
sobre seus familiares, todos homens, não interessou-se pelas mulheres, já
instigando o conflito da obra: os homens que partem combater a feiticeira, são
"comidos" por ela e nunca mais retornam aos seus lares.
A fortaleza e a capacidade de conduzir da mãe são
inabaláveis, foi ela quem o informou sobre tudo o que acontecia na aldeia
(transmissão da cultura geral pela oralidade) e quem lhe mostrou os problemas,
como a fonte maldita. Ela o levou consigo, na ocasião da entrega do ouro à
feiticeira, e não interferiu quando ele questionou a "Venerada",
ainda que outras mulheres os reprovassem. Mesmo no momento em que ela estava
inclinada, por terra, defronte ao poder, demonstrou, por seu porte e
movimentos, um ar superior em sabedoria. Indicou, também, o caminho que devia
ser traçado até e além dos domínios de Karabá.
As mulheres do vilarejo não tinham mais esperança e
mostravam-se rendidas [6], somente a mãe de Kirikou não se deixava levar, no
entanto, sugeriu isso em silêncio, revelando-se tão grande e imponente quanto a
"Poderosa".
Observamos, claramente, no decorrer da obra, o
sentido sexual translúcido nas ações. Antes de partirem para entregarem as
riquezas, o bebê pede à mãe para ir junto, ao que ela responde: "– Você já
é como os homens: quer ver Karabá, a feiticeira." Demonstrando ser algo,
estritamente, normal. Anteriormente, ele fora ao encontro de seu tio, com a
intenção de ajudá-lo. A mãe, evidenciando que isso já estava traçado (porque
ele é um homem) e querendo fazer valer o livre arbítrio, não o impediu.
Não obstante, quando o pequeno encontrou o tio,
último homem da aldeia, que caminhava para encontrar-se com Karabá, escutou a
afirmação de que o que iria acontecer não era algo para as crianças. É possível
interpretarmos esse acontecimento como o ato sexual, que é o que se pode
entender nas entrelinhas de todo o texto. Kirikou mostrou ter compreendido isso
quando, face ao monstro da fonte, pensou em pedir ajuda ao tio, mas
reconsiderou sua idéia, afirmando que ele não podia passar pela "porta
estreita" para entrar na gruta, porque ele era grande, isso devia ser
feito por alguém que é pequeno. Evidentemente, só uma criança livre de desejos
poderia vencer o mal.
É num momento de repouso do menino que a mãe
instigou uma reflexão sobre a maldade e o poder, fazendo com que o filho conhecesse
a idéia estrutural e política da sociedade e da humanidade, em que,
normalmente, o mais poderoso oprime fazendo com que os outros sofram.
Diante deste contexto, era preciso um coração puro,
uma criança, para não ceder aos encantos de tal dama. [7] A mãe acreditou na
capacidade de Kirikou, em sua astúcia, pois, além de tudo, ela o fizera assim e
sabia que a união de um coração imaculado e da sabedoria dos anciãos (no caso,
seu avô) podia fazer "milagres". Foi, justamente, o portador de tal
sabedoria que veio desmistificar a personagem de Karabá, possivelmente, porque
ele havia ultrapassado a idade onde os desejos carnais falam mais forte,
podendo, desta forma, ver as coisas de maneira clara, tais quais elas são.
Mesmo quando afirmou que ela era malvada, houve uma explicação para o fato.
Outro tipo de mulher, apresentado na obra, é a que
se diz esperta, mas não se mostra muito inteligente. Essa personagem aparece
sempre dando opiniões incabíveis, maus conselhos, reclamando, ou tentando
enganar, como no caso da recolhida do ouro. Entretanto, foi ela quem anunciou a
boa nova de que a água voltou, confirmando a característica de quem fala muito:
nem sempre fala coisas sábias ou aproveitáveis, mas está, constantemente, bem
informado para poder passar adiante.
Tal personagem apresentou-se no primeiro lugar da
fila, no momento de entregar o ouro para a feiticeira, contrariamente à mãe do
Herói, posicionada em último lugar. Essa imagem simboliza a humildade, vista
como fonte de sabedoria, contra a falsidade de quem está enganando mas não quer
ser desvelada. "Assim, pois, os últimos serão primeiros e os primeiros
serão últimos." (Bíblia Sagrada, Mat. 20, 16).
Finalmente, o terceiro tipo de mulher, é Karabá.
Qualificada, nas falas, como esplêndida, venerada e honrada, porém,
mostrando-se autoritária, ditadora e malvada. Quanto ao físico, era bonita e
vaidosa, cheia de ornamentos. Exatamente as características atribuídas às
prostitutas, que devem estar sempre belas; são descritas, pelos amantes, como
esplêndidas e honradas, mas pela sociedade em geral (ou mesmo por eles, quando
encontram-se em público), são tachadas de malvadas por "roubarem" os
homens das mulheres, e de "autoritárias" porque fazem deles "o
quem bem querem".
Temida, robotiza os homens, fazendo deles objetos
que obedecem. Kirikou podia afrontá-la, pois sabia que, sendo pequeno, seria
capaz de entrar onde nenhuma outra pessoa poderia. Ademais, ele não a temia
estando ciente de que quanto mais o povo tinha medo, mais ela tornava-se
poderosa. Não se pode dizer que ele é uma criança, mas que se fez assim para
cumprir seu desígnio. Como prova, temos sua transformação no final da história.
Se considerarmos o fundo sexual da temática, podemos
afirmar que ela não gostava das crianças porque sabia que seu poder sobre elas
era limitado; da mesma forma, detestava as mulheres, pois julgavam-na
atrapalhando suas relações com os homens. Desprezava os seres masculinos, por
lhe terem "feito mal": temos, aí, a idéia implícita de que fora
violentada. Os homens "fincaram-lhe um espinho" que a fazia sofrer
imensamente, ao ponto dela não ter coragem de pedir para alguém arrancá-lo.
Dificuldade comparável às que os seres humanos têm para tocar nas feridas
emocionais.
O avô explicou que ela não era uma feiticeira, mas
alguém que tem uma reação provocada por uma ação. Essa reação não era boa
porque a ação também não fora. A partir do momento em que ela se livrou do
sofrimento, pôde voltar a ter bons sentimentos, uma mulher livre, sem problemas
com o sexo oposto.
Para que isso acontecesse, temos um ponto importante
a considerar: a cólera de Karabá diante do roubo das jóias implicou na decisão
de primeiro recuperá-las, para depois preocupar-se com Kirikou. Esse ato deu
forças à futilidade, à vaidade e à avareza, sentimentos que a emboscaram.
Ao livrar-se do mal, ela gritou, com tal intensidade
que se fez escutar na aldeia. Esse grito representa o de todas que foram, de um
jeito ou de outro, oprimidas pelos homens, violentadas, que carregaram, durante
anos, um espinho nas costas, revoltando-se, às vezes, mas sem ter a coragem de
dar o verdadeiro grito de liberdade. Aquele que veio romper o silêncio das
mulheres e transformar a opressão, o ódio, em amor. Elucidando a vitória, ainda
que depois de muita angústia.
Foi, nesse momento, que Karabá encarnou a verdadeira
feiticeira, ela não tinha poderes sobrenaturais, todavia, o feitiço era o amor
e, através dele, por um beijo, transformou Kirikou em um homem. Antes, contudo,
ela resistiu, dizendo que sendo ou não feiticeira, não seria empregada de
ninguém. O apaixonado contestou dizendo que não faria dela uma empregada, e ela
retruca falando que todos os homens dizem isso antes de casar. O menino a
convenceu de que era diferente dos outros homens e cresceu, indicando, nada
mais, nada menos, que perdeu sua virgindade e que, pelo amor, pôde curá-la da
dor, ensinando-lhe como é uma relação sadia entre sexos opostos. Como
recompensa ou, simplesmente, conseqüência deste amor que fez as flores
desabrocharem, ela "cuidou" dele, ornando-o, e ele a apresentou aos
seus.
O último conflito foi a aceitação na comunidade, da
mesma forma que é difícil para uma prostituta, ou qualquer mulher que fuja dos
padrões estabelecidos pela sociedade, ser aceita. As pessoas não reconheceram o
filho da aldeia e a mãe retomou seu papel vindo identificá-lo. A decisão do
final feliz foi dela. As outras mulheres demonstraram sua revolta tentando
matar Karabá e, somente, pararam quando viram os homens se aproximando. Elas
recuperaram o que estava perdido. Os "filhos pródigos" voltaram para
casa favorecendo o retorno da paz.
Concluiremos dizendo que as mulheres tiveram um
papel fundamental durante toda a obra e, sobretudo, no início e no final da
narração, fazendo com que as ações fossem, sutilmente, propiciadas por elas. Mãe
e feiticeira foram o segmento uma da outra, completaram-se. Kirikou foi,
meramente, o laço entre as duas e foi isso que o transformou em Herói. Ele
libertou todos os outros homens porque "conquistou" para si, Karabá.
Referências
Bíblia Sagrada. Ed. Ave-Maria, 131ª Edição, São
Paulo, 1999.
HUNDZINSKI DAMASIO, Celuy Roberta. "Identidade,
Igualdade, Diferença – o olhar da história" In: Revista Espaço Acadêmico,
n° 79, dezembro de 2007.
HUNDZINSKI DAMASIO, Celuy Roberta. "Mulheres
Fazendo a História" In: Revista Espaço Acadêmico, n° 58, março de 2006.
OCELOT, Michel. Kiriku e a Feiticeira. Ed. Paulinas
Multimídia. Cultifilmes França/Bélgica, São Paulo, 2002
PERROT, Michelle. Les femmes ou les silences de
l'histoire. Paris, Flammarion, 1998.
* CELUY ROBERTA HUNDZINSKI é DEA em Filosofia pela
Universidade Paris X – Nanterre; Master II na Sorbonne; Tradutora e Assistente
de Educação. Publicado na REA, nº 82, março de 2008, disponível em
http://www.espacoacademico.com.br/082/82damasio.htm
[1] A resenha deste livro, intitulada Mulheres
Fazendo a História, pode ser encontrada na Revista Espaço Acadêmico – n° 58 –
março de 2006. Também pode ser consultado o texto Identidade, Igualdade,
Diferença – o olhar da historia na REA – n° 79 – dezembro 2007.
[2] Daí a origem da fama da mulher como
"faladeira" ou, até mesmo, "fofoqueira".
[3] Tradução nossa.
[4] Esposas daqueles maridos que existem mas nunca
estão presentes.
[5] Essa semelhança com a história bíblica
confirma-se mais ao final do filme, quando o pequeno engana a serpente
"vencendo-a".
[6] Uma mulher, no episódio da canoa, deixa a faca
cair (é Kirikou quem a pega pra ir salvar as crianças). As mulheres, em cenas
similares, sempre mostram-se inertes diante das maldades.
[7] Podemos observar, também, que o velho habitante
da aldeia, apesar de temeroso, não está sujeito à Karabá, provando mais uma vez
que este "feitiço" pode ser traduzido como "sexo",
excluindo crianças e idosos.
Fonte: Espaço Acadêmico/ Geledés Instituto da Mulher Negra
Com o tema " FELICIDADE É TER DIREITO" os grupos/coletivos/instituições Fórum de Mulheres de PE, Liga brasileira de Lésbicas, Bloco Ou vai ou Racha, Coletivo Flores Crew, Marcha das Vadias, SOS Corpo, GEMA UFPE, Levante Popular da Juventude, Curumim, Instituto PAPAI e Além do Arco-Iris, vai nessa quinta feira, 12 de Setembro, promover uma ação colorida e feminista, e nós do Coletivo Flores Crew estaremos customizando camisas para a Parada da Diversidade.
Além de pintar as camisas, o Flores crew vai tá pintando a faixa abre-ala da ação, traga sua camisa para pintar, é de graça/0800/free, você também poderá adquirir adesivos exclusivos e artesanais do nosso coletivo com preços promocionais, venha nos ajudar a deixa nossa faixa colorida e com a nossa cara, das mulheres que lutam por sua felicidade.
Hoje à tarde foi no Instituto Vida, em Água Fria, o Coletivo Flores Crew compareceu a devolutiva realizada pela pesquisadora e Dra. Jaileila de Araújo e sua equipe sobre gênero, sexualidade e gravidez na adolescência, voltado para mulheres ligadas ao Movimento HipHop. Uma tarde de troca de saberes e experiências, muito rica e satisfatória.
Nos últimos tempos o
cenário de violência tem tomado conta do Afeganistão. Mas duas mulheres, as
primeiras grafiteiras do país, se uniram para mudar essa realidade através da
arte.
A
duplaShamsia Hassani eMalina Suliman além de cobrir os sinais da guerra
nas ruas com belíssimos grafites, elas usam a arte urbana para encorajar outras
mulheres afegãs a lutarem pelos seus interesses e exigirem igualdade na
sociedade islâmica.
Apesar
da força de vontade, o caminho para elas nem sempre é fácil, tanto é que se
arriscam com o spray saindo escondidas durante a noite. Só assim conseguem
grafitar mensagens com críticas políticas pelas ruas e desenhos que simbolizam
as palavras que elas querem dizer mas não o fazem porque no Afeganistão não
lhes dão voz. E a
luta não para! Atualmente ambas dão workshops para formar novos artistas e
apoiam projetos que visam popularizar o acesso a arte contemporânea no país.
Nas últimas
semanas, o que eu ouvi e li — inclusive nos comentários dessa matéria — sobre
como existem “negros racistas” que reproduzem discursos e
estereótipos também racistas não está nos hieróglifos egípcios (muita
gente não sabe, mas o Egito fica no continente africano). Concordo que há
pessoas negras que reproduzam discursos racistas. Infelizmente, é esperado que
elas existam dada a configuração escravocrata e racialmente desigual na qual se
construiu o Brasil.
“Peraí, mas
a pastora não é brasileira”, você
poderia afirmar. Correto! Ela não é, mas consigo visualizar essa cena
acontecendo explicitamente aqui, em terras tropicais, num templo
neopetencostal — e de modo mais mascarado em outras instituições religiosas ou
não. Por mais que as relações étnico-raciais no Brasil e nos EUA tenham se
configurado de forma diferente, a reprodução de discursos racistas por pessoas
negras é algo que acontece nas duas nações. O que
não se pode afirmar é que essas pessoas negras são racistas. Elas não são. Afinal, não há relação de ganho ou de benefícios
quando um negro oprime a si mesmo ou ao seu par. Explico melhor.
Lembremos que
quem criou esse cenário de opressão não foi o povo preto. Mas sim os brancos
que, durante séculos, estruturaram tão bem a inferiorização do negro a ponto de
ele mesmo estigmatizar seu par e seu grupo. Um exemplo declarado dessa construção
é a carta-tutorial
escrita em 1972 por Willy Lynch, proprietário de escravos no Caribe
conhecido por manter controle absoluto sobre os corpos negros que foram
colocados em suas mãos (para saber mais, aqui). O documento ensina como deixar os escravos submissos e
dominados “Verifiquei que entre os escravos existem uma série de
diferenças. Eu tiro partido destas diferenças, aumentando-as. Eu uso o medo, a
desconfiança e a inveja para mantê-los debaixo do meu controle (…) Deveis usar
os escravos mais velhos contra os escravos mais jovens e os mais jovens contra
os mais velhos. Deveis usar os escravos mais escuros contra os mais claros e os mais
claros contra os mais escuros”. Por fim, o autor completa “Se fizerdes intensamente uso
delas por um ano o escravo permanecerá completamente dominado. O escravo depois
de doutrinado desta maneira permanecerá nesta mentalidade passando-a de geração
em geração”.
Imagem de pichação racista na UFBA “Negro só se for na cozinha do RU, cotas não"
Foram (e são)
séculos de doutrinação e mentalidade racistas passadas de geração em
geração. No campo simbólico, os discursos e estereótipos
racistas são algumas das ferramentas desse processo de dominação – ambas
contribuem para delimitar e limitar o espaço do povo negro na sociedade. Elas (essas ferramentas) reduzem o indivíduo-alvo a meia
dúzia de características que vão, além de estigmatizá-lo, determinar o lugar
onde ele pode se construir enquanto ser social. Isto é, dizer o que o oprimido
deve ou não ser, como deve ou não se portar e até onde pode chegar. No caso da
pastora, pessoas negras não podem ser recepcionistas, não podem estar na
fachada da igreja porque isso não é o melhor. O “melhor do melhor” é
sinônimo de ser branco. No
Brasil não é diferente: nas capas de revistas não há preto, nas
novelas não há preto, nas dirigências de órgãos e instituições não há
pretos... Também porque aqui branco é sinônimo de “melhor do melhor” e esse
é quem tem que estar nos espaços de destaques, de frente e de contato com o
outro, enquanto o preto fica à margem, nos bastidores.
É preciso entender que o processo de dominação foi
tão bem introjetado que os próprios oprimidos podem sim reproduzir e contribuir
para a opressão que o dominante construiu, mas não tiram benefícios como os
reais opressores. A pastora Pennycooke não é racista, tal como os negros
apontados como racistas nas últimas semanas. Para os tacharem de racistas, seria preciso que houvesse um dominante que
fosse beneficiado às custas do dominado, como o proveito que branco tira do
negro que ele historicamente inferiorizou. No caso apresentado, Pennycooke,
enquanto pessoa negra, não teve ganho para si mesma ou para o grupo étnico ao
qual faz parte. Muito pelo contrário: ela prestou um desserviço, contribuiu
para a legitimação de que o negro não deve ocupar certas posições e reforçou a
suposta supremacia branca em relação a outras etnias que vive no imaginário da
maioria da sociedade.
Isso o que Pennycoke fez e, com certeza, que outros
negros fazem não deve servir de estopim para racistas
legitimarem seu discurso a partir do “não estou sendo preconceituoso se
o próprio negro é diz/faz isso ou aquilo”. Mas deve sim ser
desconstruído; entendido como um sistema que colocou suas vítimas contra elas
próprias, fazendo-as comprarem os discursos do seu algoz; e ensinado o quão
prejudicial é para o povo negro a reprodução de falas racistas.
E vou além: para os que
só veem “negros sendo racistas”, afirmo que, nesse exclusivo
apontamento do oprimido como seu próprio opressor, há mais um tentativa
desesperada de se livrar da responsabilidade pelo próprio racismo e manter
o status quó de opressão do que fazer um mundo menos
intolerante — não cola!
Fonte: Higor Faria é preto,
publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no //medium.com/@higorfaria"
No próximo domingo dia 08, o Instituto Vida convida as mulheres do Movimento Hip Hop do Recife para um bate-papo sobre gênero, sexualidade e gravidez na adolescência, o encontro viso promover uma devolutiva referente a pesquisa "Significado da gravidez na adolescência no contexto do movimento Hip Hop" da pesquisadora e Dra. Jaileila de Araújo. Quando: Domingo dia 08 de setembro Horário: 14h Local: Sede do Instituto Vida - Estrada Velha de Água Fria 1463 - Recife / PE
O Ministério da Educação (MEC) anunciou no último dia (28) um programa de intercâmbio voltado para estudantes do ensino superior negros e indígenas. O Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento será desenvolvido em parceria com Universidades e Instituições Comunitárias de Ensino Superior Historicamente Negras nos Estados Unidos. Parte das bolsas de estudo será oferecida pelo Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) e parte será destinada aos cursos de humanas.
As Universidades Historicamente Negras foram criadas na década de 60 com a missão de educar negros, sendo abertas, no entanto, a indivíduos de todas as etnias. Para aderir ao programa, as universidades devem ter comprovada excelência. São mais de 100 instituições com essas características nos Estados Unidos.
Segundo Mercadante, 18 reitores estão no Brasil para detalhar o programa Abdias Nascimento, cujo nome é uma homenagem ao político e ativista social brasileiro defensor da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil. Eles deverão definir quantas vagas serão ofertadas aos estudantes brasileiros negros e indígenas.
As bolsas ofertadas pelo CsF serão para as áreas prioritárias do programa, que são ciências exatas (matemática e química), engenharias, tecnologias e ciências da saúde. Mercadante disse que serão oferecidas vagas também para a área de humanidades, para a formação de professores, "o que faz sentido, pela especificidade [do novo programa]", explica.
O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Paulino Cardoso, diz que o programa é uma ação muito importante para que os pesquisadores negros deem um salto na educação brasileira. "Hoje o Brasil, e principalmente aqueles que fazem parte de um grupo dirigente, dividem-se entre aqueles que têm e aqueles que não têm uma experiência internacional, sejam eles estudantes de graduação, sejam professores. O programa vai permitir a intensificação do intercâmbio entre esses estudantes e da língua inglesa no país".