terça-feira, 30 de julho de 2013

Marcas da presença africana no Brasil em exposição


Não somente de chicotes e brasa foram feitas as marcas da presença africana no Brasil durante o período escravista. Havia sobretudo mulheres e homens vindos de um mesmo continente, porém membros de diferentes grupos, identificados por traços corporais que integravam uma cultura rica e influente. Uma boa chance de saber mais sobre esse aspecto pouco documentado nos registros históricos é visitar a exposição Marcas da Alma: uma viagem pela cultura afro-brasileira através das marcas corporais, a partir da próxima sexta-feira (2) até o dia 29 de setembro, no Caixa cultural, situado no Recife Antigo, com entrada gratuita.

A exposição inclui uma mostra de 70 peças arqueológicas do período em que a escravidão imperou no País e conta também com 10 fotografias que exploram a história da presença africana no Brasil através das marcas étnicas, no Rio de Janeiro de 1860. As peças da mostra são fruto de escavações que duraram mais de 20 anos de pesquisas no litoral norte de São Paulo, na cidade de São Sebastião. São cerâmicas, cachimbos, figuras votivas e estátuas reconstruídas e restauradas, cuja relevância levou a Unesco a integrar o conjunto aos Monumentos da Humanidade. As fotografias, por sua vez, pertencem ao acervo Noronha Santos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e trazem registros preciosos das etnias africanas e suas marcas corporais, usadas para identificação dos grupos.

Uma palestra sobre a importância da escavação na reconstituição histórica, com o curador Wagner Bornal, abre a exposição na quinta-feira (1º), às 19h.

Serviço
Marcas da Alma: uma viagem pela cultura afro-brasileira através das marcas corporais
Visitação de 2 de agosto a 29 de setembro
Terça a domingo, de 10h às 19h
Caixa Cultural - Recife
Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife
Entrada gratuita
Fone: (81) 3425-1900

Flores no Sertão Pernambucano


“Nenhum homem nasceu para ser pisado!”, já dizia Virgulino Lampião. E foi inspirado em pensamentos como esse que o Flores Crew aportou na cidade de Serra Talhada, no interior de Pernambuco, para participar do intercâmbio cultural A Praia Vai ao Sertão, entre os dias 26/27 e 28 de julho, a convite do Coletivo Bagaço.


Entre os participantes do intercâmbio estavam graffiteir@s, poetas, músicos, comunicadores, bailarin@s e jovens ativistas culturais, presenças que proporcionaram um grande espaço de troca, enriquecendo nossas ideias.


Além de boas conversas, tivemos vivências com o grupo cultural Cabras de Lampião, que mantém o Museu do Cangaço com acervo sobre a vida de Lampião, seu bando e sua luta. O encontro contou com várias intervenções artísticas e entre elas destacamos a batucada para iniciar a produção do graffiti: integrantes do coletivo Bagaço puxaram cantigas de Coco para iniciar as atividades do dia.


Um painel localizado em frente ao Museu do Cangaço, em que foi realizada uma pintura coletiva, chamava atenção de todos que passavam por lá. Dentro da programação das comemorações em memória a Lampião, conferimos também apresentações de bacamarteiros, grupos de xaxado e o espetáculo teatral O massacre de Angico - A morte de Lampão (que emocionou o público), além da Cavalgada Cultural, que reuniu inúmeros vaqueiros em marcha pelas ruas da cidade.



O sol de 42ºC que esteve presente durante a produção do painel esquentou também o solo das boas ideias. Temos certeza de que a parceria entre os coletivos Bagaço e o Flores Crew vai resultar em muitas coisas boas pela frente! =)

Na Escuta #1

 
Hoje o blog do Flores apresenta a primeira postagem do Na Escuta, que vai ao ar todas as terças. A ideia é criar um espaço para divulgar e curtir boa música. Se você tem sugestão de grupos e bandas manda para o nosso e-mail : florescrewrecife@gmail.com. 




 
Dois Africanos é uma dupla de World Hip hop (rap rnb com varias influencias musicais) criada em 2012 no Brasil. Composta de um cantor RnB do Togo (Izy Mistura) e um rapper do Benin (Opai BigBig).
Cada um com as experiências profissionais anteriores dele. Opai Bigbig , o rapper da dupla iniciou a carreira dele em 2000, integrante da banda “3ème monarchie” do Benim de 2005 a 2011, ele gravou com a banda 2 álbuns, tem também um repertorio solo de uma dezena de músicas. Izy Mistura, o cantor Rnb da dupla, começou em 2007 com o colletivo “M16” do Togo. Líder da banda Street Angels de 2009 a 2011, ele gravou muitas músicas com a banda e apareceu em varias colaborações artisticas no Togo. Togo e o Benin são dois países de língua francesa, vizinhos da Africa de Oeste. 

 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Onde está Amarildo?



O sumiço de um morador na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, se torna um mistério. Há mais de 10 dias, a família do morador AMARILDO de Souza conhecido como boi, vem buscado incansávelmente uma solução para este caso. AMARILDO foi visto pela última vez no dia 14 por volta das 8h. Ele foi levado por policiais da UPP da favela para averiguação e, desde então, não voltou para casa. Seus parentes rodaram hospitais e delegacias e não o encontraram até hoje. Durante a semana passada, os moradores protestaram contra o sumiço dele, nas quarta, 17, e na sexta-feira, 19, interrompendo o trânsito na Auto-estrada Lagoa-Barra, importante via de ligação entre a zona sul e a Barra da Tijuca. - See more at: http://vivafavela.com.br/blogs/william-de-oliveira/hoje-rocinha-grita-cad%C3%AA-o-amarildo#sthash.PwxgffvA.dpuf
O sumiço de um morador na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, se torna um mistério. Há mais de 10 dias, a família do morador AMARILDO de Souza conhecido como boi, vem buscado incansávelmente uma solução para este caso. AMARILDO foi visto pela última vez no dia 14 por volta das 8h. Ele foi levado por policiais da UPP da favela para averiguação e, desde então, não voltou para casa. Seus parentes rodaram hospitais e delegacias e não o encontraram até hoje. Durante a semana passada, os moradores protestaram contra o sumiço dele, nas quarta, 17, e na sexta-feira, 19, interrompendo o trânsito na Auto-estrada Lagoa-Barra, importante via de ligação entre a zona sul e a Barra da Tijuca. - See more at: http://vivafavela.com.br/blogs/william-de-oliveira/hoje-rocinha-grita-cad%C3%AA-o-amarildo#sthash.PwxgffvA.dpuf
Viva Favela:
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Nota de Repúdio às Declarações Machistas de Ortinho

MACHISMO NÃO É ARTE; MACHISMO NÃO É PUNK
MACHISMO É O SISTEMA OPRESSOR EM SUA FACE MAIS CRUEL

No dia 20 de julho, o cantor Ortinho, durante um show no Festival de Inverno de Garanhuns 2013, incitou seu público a só respeitarem as mulheres grávidas e a “meter o dedo no parreco” das outras, que segundo ele, queriam mesmo é “dar” e “foder”.
O fato repercutiu nas redes sociais e a sociedade civil pediu uma resposta tanto do cantor quanto da Secretaria da Cultura, que financiou o show. A resposta veio, para maior decepção.
Em sua nota de desculpas, o cantor afirma que “o show foi bastante aplaudido” e que “houve uma supervalorização do fato por eu ser uma figura pública”.
Mais grave do que isso foi a nota da Secretaria de Cultura de Pernambuco e Fundarpe, pela qual o Governo de Estado lamenta a frase dita pelo músico e finda enaltecendo a importância da banda para a cena de rock dos anos 90 e afirmando que a cena em que os fãs saudosos dançavam numa “roda de pogo” [dança punk] era “muito mais importante do que qualquer frase pronunciada por Ortinho na mesma apresentação”.
Ao cantor, ao Governo do Estado e a todos que trataram a situação como uma “frase infeliz” que não tirou o brilho do show tão aplaudido é necessário dizer que o cantor incidiu no delito de incitação pública à prática de crime, previsto no art. 286 do Código Penal.
Mais grave: incidiu na incitação pública à prática de crime de ódio, que é aquele motivado pelo preconceito e que seleciona intencionalmente a sua vítima em razão do grupo social ao qual pertence.
Ora, Pernambuco é um dos estados da federação que bate recordes de violência contra a mulher que não podem orgulhar a ninguém: O Brasil ocupa o 7º lugar entre os países com de elevados níveis de feminicídio. Pernambuco está entre os 5 estados com maior taxa de morte por agressão a mulheres.

E em Pernambuco tivemos 273 mortes de mulheres em 2011 e 207 em 2012. Dessas mortes, cerca de metade praticada por parceiro íntimo. Como é possível, nesse contexto, aceitar a incitação à violência contra a mulher como uma frase menos importante do que os aplausos que o cantor recebeu?
Alegar uma roda de pogo como desculpa para diminuir o impacto da incitação à violência contra a mulher é também uma ofensa ao movimento punk, contra-cultural e subversivo por essência.

Tampouco alegar liberdade de expressão para erradicar a liberdade alheia pode ser chamado de arte.
O machismo é uma das formas de opressão do ser humano mais tradicionais e enraizadas na cultura do establishment, é uma das mais crueis formas de imposição de força arbitrária e injusta.
E o machismo só existe porque é culturalmente aceito. Porque ele é repetido à exaustão como algo inofensivo. Tão inofensivo a ponto de ser menos importante do que uma roda de pogo.
Nós, mulheres, somos agredidas todos os dias pelo simples fato de termos nascido mulheres. E enquanto houver uma cultura de tolerância e de aceitação dessa violência, nós vamos continuar morrendo e sendo silenciadas.
Por isso, nós é que estamos “pogando” no sistema opressor, patriarcal, machista, excludente, desumano, ao denunciarmos a brutalidade da violência contra a mulher e ao propormos um discurso de fato contra-cultural.
E convidamos o cantor e a Secretaria de Cultura de Pernambuco a, junto conosco, “pogar” de verdade, porque fazer pose de punk é tão falso quanto inútil.

Diante disso, pedimos:
1)      A retratação do Governo do Estado sobre a nota emitida acerca do episódio, através da sua Secretaria de Cultura e Fundarpe, reconhecendo que a incitação à violência contra a mulher é fato gravíssimo que deve ser repudiado por toda a sociedade e pelo próprio Governo e que tem importância autônoma em relação ao pretenso valor artístico do evento.

2)      Que haja articulação entre a Secretaria da Mulher e a Secretaria de Cultura, assegurado o diálogo com a sociedade civil e os movimentos e articulações de defesa dos direitos das mulheres, para fortalecimento das políticas públicas culturais feitas por e voltadas para a mulher.

3)      Que seja criada uma comissão especial com participação dos diversos segmentos da sociedade civil para elaborar projeto de lei que vede o financiamento público de produtos culturais que promovam discurso de ódio e que promova a relação entre os direitos das mulheres e as expressões culturais.

4)      Que seja firmado Termo de Ajustamento de Conduta entre a Secretaria de Cultura e o cantor, no qual o mesmo se compromete a jamais promover qualquer discurso de ódio contra qualquer grupo social oprimido, como condição para que possa participar de eventos promovidos pelo poder público estadual.

Recife e Garanhuns, 27 de julho de 2013.

Marcha das Vadias do Recife
DCE UNICAP 
Coletivo Rompendo Amarras
Movimento Zoada
Grupo Curumim
Grupo de Teatro Loucas de Pedra Lilás
Grupo Diversidade
UNICAP
Coletivo Flores Crew
Coletivo Ou Vai ou Racha
Najup – Núcleo de Assessoria Jurídica Popular/UFPE
Partido Pirata do Brasil
PSol
Muda – Direito UNICAP

http://marchadasvadiasrecife.tumblr.com/post/56645015524/nota-de-repudio-as-declaracoes-machistas-de-ortinho

Graffite no programa Estação Periferia


No último sábado (27) o programa Estação Periferia, da TV Brasil, falou sobre Graffiti, visitando Recife (PE), São Paulo (SP) e Aracaju (SE). Entre os entrevistados está o nosso amigo e parceiro Emol, que teve a chance de mostrar uma de suas intervenções urbanas: O Poder da Palavra. Saca a chamada do programa: 



E aí, curtiu? Então confere o programa completo no link:
http://tvbrasil.ebc.com.br/estacaoperiferia/episodio/grafite-no-estacao-periferia#media-youtube-1

Quer saber mais sobre o trabalho de Emol? Visita o site dele: http://www.emol.art.br/

* Estação Periferia, o mais novo programa da TV Brasil em parceria com a Fundação Aperipê, empresa de comunicação do governo do Sergipe. Foca na realidade das periferias do país, a atração vem revelar o que há de positivo nesses aglomerados populacionais de baixa renda. Apresentação Anderson Passos mais conhecido como "Hot Black", direção Raphael Borges, produção Ivy Almeida.


Dicas de Leitura 3

Graffiti Bible


Hoje nossa dica de Leitura vai para os religiosos e amantes das artes e do Graffiti é claro... Graffiti Bible!!! Isso mesmo a Bíblia do Graffiti.
Um olhar fascinante sobre o universo do graffiti, uma das expressões mais fortes da arte urbana em suas mais diversas forma, tipos e tamanhos, desde o estêncil aos adesivos e passando pelos consagrados traços da old school.
Dos muros aos monumentos, das galerias e museus. São mais de 350 páginas de fotografias de imagens incríveis que mostram todas habilidades dos grafftis acopanhadas por textos e informaçõe





Autor: Meynendonckx, Fien
Editora: Tectum
Categoria: Artes / Fotografia
Por: R$ 83,10
Onde: Livraria Saraiva

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Graffite na SBPC!

Ontem o Flores Crew participou de um debate sobre graffiti na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), dentro da programação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Aproveitamos a oportunidade pra falar também sobre Feminismo Comunitário e outras vivências no Hip Hop. Além de troca de ideias, rolou também intervenções dentro do Centro de Educação da universidade. Confere aí as fotos!



A Praia irá ao Sertão!





O Coletivo Bagaceiro promove nos dias 26, 27 e 28 de julho o intercâmbio Cultural A Praia irá ao Sertão! O evento tem como proposta levar um grupo de artistas da Região Metropolitana do Recife, que atuem em diferentes linguagens (graffiti, poesia, dança, fotografia, entre outros), para participar do Tributo à Lampião que acontece anualmente na cidade de Serra Talhada, no alto Sertão pernambucano. 


Uma junção entre a cultura urbana do litoral pernambucano e a riqueza da cultura sertaneja. Dentre os artistas convidados o Coletivo Flores Crew envia como representante os companheiros Sérgio Nascimento (Rastro) e Gabi Bruce (Azul).

O Tributo a Lampião é um evento multicultural que procura preservar e transmitir às novas gerações a cultura do cangaço. Acontecem apresentações de danças populares, declamações poéticas, performance de bacamarteiros, atividades religiosas e, desde o ano passado, encenação de teatro a céu aberto. O intercâmbio vai incorporar-se na programação do evento com apresentações de poesia e dança; e com graffitis nas paredes da cidade, com prévia autorização, além da documentação do tributo. 




Serviço 


Projeto de intercâmbio cultural: O Sertão vai vir à praia, a praia irá ao Sertão 
Realização: Coletivo Bagaço 

Data: Ida - 26 às 14h concentração em frente ao CAC. 
PROGRAMAÇÃO: 27- manhã: início dos graffites; tarde: intervenções poéticas e performáticas; noite: Espetáculo do Massacre de Angico.

Uma carta de amor aberta para o meu filho: Sobre luto, amor e maternidade negra


Por Christen Smith com tradução de Viviane Santiago da Silva



Criar e educar crianças negras – de sexo masculino e feminino – na boca de um dragão racista, sexista e suicida é perigoso e incerto. Se eles/as não podem amar e resistir ao mesmo tempo, eles/as provavelmente não sobreviverão. E em ordem de sobreviver eles devem se desprender/liberar. Isto é o que mães ensinam – amor, sobrevivência… (Audre Lorde, “Man Child” in Sister Outsider, 1984).

Quando eu estava grávida de você, eu tinha certeza de que você era uma menina. Mesmo quando um/a sábio/a atrás do/a outro/a olhava diretamente para a minha barriga enorme e redonda, balançava a cabeça e me dizia: “Não, isso é um menino”, eu não acreditava neles. Eu não poderia me imaginar tendo um menino. Menininhos nunca foram uma parte das minhas fantasias de maternidade. Eu sempre me imaginei como mãe de menina. Uma menina para ser exata: exatamente como minha mãe, a mãe da minha mãe e a maioria das minhas tias. Então, quando seu pai e eu fomos fazer nosso ultrassom de cinco meses de gravidez para descobrir o seu sexo e ter certeza de que você estava bem, eu estava numa jornada de confirmação e não de descoberta.

Eu deitei naquela conhecida mesa de falso couro do médico. Levantei minha camisa e esperei para que a geleia gelada fosse aplicada. Nós dois estávamos tontos de ansiedade. Nas nossas mentes, nós não nos importávamos se você era um menino ou uma menina. Era a excitação de atingir outro marco na gravidez que era eufórico. O médico começou a descrever seu batimento cardíaco, sinais vitais, contar dedos dos pés e das mãos, tudo enquanto nós observávamos você, nadando pacificamente, na tela de projeção. Já treinado na teatralização do processo, o médico esperou até o finalzinho da consulta para perguntar se nós queríamos saber o seu sexo. Nós inspiramos e dissemos: “Sim”. Com olhos brilhantes da certeza de nosso entusiasmo, ele disse: “Tá vendo isso aqui, isso é um pênis, e ali está o escroto dele, você está gerando um menino!” Minha respiração parou momentaneamente e calafrios percorreram meu corpo. Eu forcei um sorriso. Eu já amava você profundamente, mas saber que você era um menino e não uma menina me paralizou de medo.

Quando estávamos saindo do consultório do médico, seu pai olhou para mim e perguntou: “Você está bem?”, como se ele soubesse que minha cabeça estava girando com as emoções que eu estava apenas começando a entender. Eu forcei um outro sorriso, respondi: “Sim, eu estou bem”, e fui ao banheiro para me recompor. Eu lavei meu rosto e tentei sair dessa sensação de vertigem que eu estava sentindo. Mas eu não podia afastar a dor surda de tristeza que eu sentia e não podia entende o porquê. A boa feminista em mim repreendia: “Sexo é uma construção social. Recomponha-se.” Mas a sensação fria permanecia. Quando eu estava saindo da clínica para a calçada ensolarada, a sensação fria se transformou em pânico. Envergonhada, eu tentei esconder isso de todo mundo: seu pai, seus avós e meus amigos. Eu não queria que ninguém soubesse que saber que você era um menino me deu uma sensação de pavor que eu não podia entender ou explicar. Eu comecei a fazer pequenos comentários para a nossa família que davam uma pista do meu sofrimento emocional. Eu poderia dizer coisas como: “Eu não tenho a menor idéia sobre o que fazer com um menino”, ou “Nós apenas não temos nenhum menino em nossa família”, mas minha mente não podia ou não permitia que eu colocasse em palavras o indizível terror que eu sentia.

Eu estava em estado de choque e demorou muito para que eu entendesse o porquê. Foi somente em fevereiro de 2012, depois que você nasceu, essa bela e extraordinária pessoa que você é, e já estava nesse mundo por quase um ano, que eu comecei a confrontar meu segredo vergonhoso. Esse foi o dia em que eu soube que Trayvon Martin tinha sido baleado e assassinado, e ouvi sobre as circunstâncias da morte dele. Quando eu ouvi essas notícias, eu sentei e chorei. Eu chorei por ele. Eu chorei pela família dele. Eu chorei pelas pessoas negras em todos os lugares. Mas, acima de tudo, eu chorei por você.

Eu, uma mãe negra de um menino negro, entendia e conhecia a dor que Sybrina Fulton (a mãe de Trayvon Martin) estava experienciando através de um intenso sentido de empatia diaspórica que atravessava/cruzava o tempo e o espaço. E eu estava petrificada pelo pensamento de perder você, ou ser mais uma mulher negra perdendo mais um filho negro. Novamente, outro assassinato de outra criança negra mal interpretado como um homicídio justificável me forçou a a confrontar o pânico secreto e tendencioso com relação ao gênero sobre maternidade negra que eu tinha carregado comigo desde que eu era uma criança. Por mais irracional que isso pareça, a descoberta de que você era um menino me fez sentir como se você estivesse recebendo uma sentença de morte. Eu sabia naquela época, como eu sei agora, que meninas negras também são desproporcionalmente impactadas pela violência policial, e eu também sabia, como JamilaAisha Brown observa, que essa realidade é invisível e silenciada. Nós nunca devemos esquecer Ayana Stanley-Jones, Reika Boyd, Malaika Brooks, Jaisha Akins e Frankie Perkins, mulheres negras assassinadas e imencionavelmente prejudicadas pela polícia, cujas vidas relembram a sempre tão frequente realidade de violência estatal contra as mulheres negras nos Estados Unidos. E a realidade da violência policial contra pessoas transgênero/a é literalmente inconcebível na nossa socieade, onipresente, mas invisível para a maioria dos que não são parte dessa comunidade.

Entendendo tudo isso, e reconhecendo as óbvias contradições inerentes ao meu medo, eu ainda não conseguia afastar o sentimento de tristeza e desamparo associados ao fato de trazer você a este mundo. Na minha mente traumatizada e irracional, maternar meninos negros era um luto iminente e a empatia que eu sentia por mulheres como Sybrina Fulton, Mammie Till e Laura Nelson tornou isso ainda mais nítido. Mas meus sentimentos não se originaram/nasceram apenas no/do silêncio hegemônico que blinda a real letalidade da supremacia heterrosexista e patriarcal contra mulheres negras e pessoas negras transgêneras. Eles também se originavam dos crus e dolorosos sentimentos de amor que eu tenho por você.

Silenciosamente e quase inconscientemente, por anos, eu tinha desenvolvido um senso de vida e amor que estava sendo moldado por minhas preocupacões com os assassinatos sem sentido de crianças negras que acontecem diariamente nos nossos dois lares: Os Estados Unidos e o Brasil. Entendendo, pesquisando e escrevendo sobre a morte negra, eu me vi paralisada com o medo da perda. Antes de eu me tornar a mãe, eu podia compartimentalizar aquele sentimento e distanciá-lo. Porém, depois que eu me tornei mãe, eu não podia mais distanciar as realidades de violência com as quais eu tinha começado a viver nos meus pensamentos e reflexões diárias. Mesmo quando você crescia no meu útero, eu incoscientemente comecei a tritutar estatísticas na minha mente, numa tentativa de criar um cenário que de algum modo pudesse fazer sua sobrevivência mais provável. Fundamentalmente, eu amava tanto você que eu não podia suportar a ideia de você possivelmente ser tomado de mim pelo “dragão suicida” que é o nosso mundo. Minha esperança de que você fosse uma menina era meu desespero em acreditar que, de algum modo, existiria uma maneira de bater as probabilidades do jogo de roleta russa que é a vida de pessoas negras nas Américas.

Depois de dedicar anos me posicionando pessoalmente e politicamente contra a violência policial (e seu parente próximo, o vigilantismo) contra pessoas negras nos Estados Unidos e no Brasil e traçando a genealogia da tortura e da morte da população negra a partir da escravidão no hemisfério americano até linchamentos, grupos de extermínio e policiamento nas duas nações, eu passei a aceitar que o mundo toma meninos negros de suas mães, frequentemente na frente dos olhos delas, sem nenhum motivo, sem razão, ao caso e ainda assim com uma intenção cruel.

Eu conheci as mães de Canabrava no I Encontro Popular pela Vida e um Outro Modelo de Segurança Pública em Salvador, Bahia, em 2009, após uma centena de policiais civis e militares do batalhão de operações especiais terem invadido o bairro delas e executado sumariamente cinco jovens homens daquela comunidade. Três dos jovens, Edmilson Ferreira dos Anjos (22), Rogério Ferreira (24) e Manoel Ferreira (23) eram irmãos. De acordo com a irmã deles, a polícia invadiu a casa deles, puxaram a mãe deles pra fora e atirou nos meninos enquanto eles estavam assistindo televisão, no sofá e dormindo no quarto. Eu conheci Debora Silva, das Mães de Maio, cujo filho foi uma das 493 pessoas que a polícia matou em São Paulo em 1996, em retaliação às revoltas do PCC. Eu conheci Deise, uma das milhares ( sim, milhares) de mães negras cujos filhos foram assassinados pela polícia no Rio de Janeiro nos últimos dez anos, que teve que contratar um investigador particular para encontrar o corpo mutilado de seu filho após ele ter sido assassinado. Nos olhos delas, eu vi a morte em vida que acontece quando a alegria de sua vida é sugada pela supremacia branca. O mesmo olhar eu já tinha visto nos olhos de Sybrina Fulton, nos olhos de Mamie Till e nas fotos de mães, irmãs, filhas e parceiras, longe, nas sombras dos linchamentos nos Estados Unidos, esperando para recolher os restos mortais dos seus entes queridos. Eu lembrei da tia que você nunca conheceu, que perdeu seus meninos para a violência policial e a violência das ruas, mas que tinha mantido suas meninas. Porque eu conhecia mais mulheres negras que tinham sobrevivido à violência policial (mesmo que as suas vidas tenham se tornado uma morte em vida), eu ansiava que você fosse uma menina.

Desde que você nasceu, eu tenho lutado com o terror que eu senti naquele dia em que eu descobri que você era um menino e agora que seu irmãozinho está aqui, minha jornada para superar esse terror tem se tornado mais intensa. Ainda assim, lindamente, misticamente, você tem me ensinado a desmentir os meus medos e apenas amar você, reconhecendo o que Audre Lorde disse muitos anos atrás: “Se [você] não pode amar e resistir ao mesmo tempo, [você] provavelmente não sobreviverá… Para sobreviver, crianças negras na América, devem ser criados para ser guerreiros”(1984:74-75). Então, minha promessa a você é criar você como um guerreiro, porque essa é a única coisa que eu posso fazer. E entender que este é o meu jeito de amar você em cada passo do caminho. Cada dia que você vive e ama, sorri e gargalha, ri e chora, nos seus olhos brilhantes, você carrega a felicidade de Olorum; e eu sou relembrada de que você voltou para lutar mais um dia. Você e seu irmão não são meus, mas um dia vocês vão crescer e se tornar ferozes guerreiros por verdade e justiça.

Christen Smith é uma mãe, escritora e pesquisadora que atualmente trabalha como professora de Antropologia e Africa e Diáspora Africana na Universidade do Texas em Austin.O trabalho dla explora as políticas de performance, raça, violência e corpo nas Américas. Ela tem publicado ensaios sobre performance, formação racial do Brasil, violência policial e políticas de geografia em Salvador e o corpo coletivo negro feminido transnacional. Desde 2001 ela vem colaborando com militantes negros/as em Salvador, na luta para denunciar violência policial e os grupos de extermínio contra a comunidade negra no Brasil.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Flores debate vivências no Hip Hop em encontro na SBPC


O Coletivo Flores Crew tem o prazer de informar que participa hoje (25), às 19h, de um debate sobre graffiti na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), dentro da programação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A troca de ideias é aberta ao público e vai rolar na sala 12 do Centro de Educação da UFPE, na Cidade Universitária.

O debate tem como convidados os graffiteiros Azul de Barros e  Tof, que realizaram a pintura do painel de entrada do Centro de Educação. O Flores Crew estará presente, compartilhando nossas vivencias não só do graffiti, mas sobre feminismo comunitário e outras experiencias com o  Hip Hop, o debate tem como coordenadoras as  professoras Jaileila de Araújo (GEPCOL) e Rita Voss (DFSF/CE).





O coletivo marca presença ainda com um espaço onde serão vendidos adesivos, revistas e outros produtos. Esperamos você lá!

terça-feira, 23 de julho de 2013

Cursos gratuitos de Design e Fotografia em Olinda




Estão abertas as inscrições para os cursos do Centro de Comunicação e Juventude - CCJ Recife para o segundo semestre - 2013.2.
Os cursos de Fotografia e Design são gratuitos e direcionados a jovens de 16 a 29 anos do bairro de Peixinhos e de outras comunidades do Recife e Grande Recife. O CCJ Recife é um dos parceiros do Flores Crew e por essas e outras nós indicamos essa inciativa!

Confira o CRONOGRAMA:

22 a 31/07  - Inscrições pelo email ccjrecife@yahoo.com.br ( Informar Nome Completo / Instituição / Telefone / Endereço / Número RG / Opção de Curso);

 01/08 – Seleção PRESENCIAL  - Horário: 08h30 (Dinâmicas de integração em grupo – É necessária a presença no CCJ Recife: Avenida Presidente Kennedy, 2550, Peixinhos, Olinda-PE);

02/08 – Resultado da Seleção: Os educandos selecionados serão informados por email ou telefone;

05/08 – Início das novas turmas.
 
OS CURSOS  DE DESIGN E FOTOGRAFIA DO CCJ RECIFE SÃO GRATUITOS

Mais informações: Email: ccjrecife@yahoo.com.br / Fone: 81 | 3031-5512



Conheça o CCJ Recife

O CCJ realiza desde de 2006, atividades no campo da formação/capacitação de jovens nas linguagens de comunicação, favorecendo a capacitação técnica, estimulando a formação de incubadoras produtivas no campo da comunicação e a participação nos espaços de discussões, proposições e controle das políticas públicas voltadas para juventude e comunicação.

http://ccjrecife.wordpress.com

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Dicas de Leitura 2



Anos coletando alfabetos de 154 artistas de 30 países... O resultado disso é um livro de referência tipográfica única, com mais de 150 alfabetos especialmente projetado e exclusivos.
Street Fonts, da alemã Claudia Walde, também conhecida como Mad C. Publicado pela editora Thames & Hudson-id.
Claudia estudou Desenho de Comunicação na Alemanha e viajou pelo mundo grafitando, observando trabalhos de outros grafiteiros, companheiros e amigos. Com objetivo de dar reconhecimento e presígio artístico ao graffiti, ela nos oferece esta obra cheia de idéias, impressões e muita arte.

Para saber mais sobre esse e outros trabalhos da autora acessa o facebook: https://www.facebook.com/streetfonts


Street Fonts
de Claudia Walde
Editora  Thames & Hudson-id

terça-feira, 16 de julho de 2013

Concurso de arte urbana dá viagem a Nova Iorque


Tá afim de ir pra Nova Iorque com viagem e hospedagem pagas? Então se liga no concurso que a grife Calvin Klein lançou: o Desafio Arte Urbana. Realizado em parceria com o site IdeiaFixa, o evento é aberto a artistas independentes maiores de 18 anos que querem mostrar seu trabalho. Com essa ação, a Calvin Klein também deseja promover o seu mais novo perfume, o Ck One Shock Street Edition.

Pra participar basta você criar sua arte de rua, fotografar e depois enviar o registro pro site do concurso. São aceitos trabalhos em lambe-lambe, stencil, graffiti, sticker, projeções, intervenção urbana e ilustrações. As inscrições ocorrem entre 15 de julho e 16 de agosto, e o resultado está previso para o dia 26 de agosto. O vencedor ganha uma viagem de cinco dias pra NY, com direito a acompanhante!

Mais informações no www.ideafixa.com/desafioarteurbana

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dicas de Leitura 1




Letramento de reexistência, poesia, grafite, música, dança: Hip Hop de Ana Lúcia Silva Souza, publicado pela editora Parábola, discutir, a partir de uma abordagem enunciativo-discursiva, como os sujeitos percebem a si mesmos como ativistas do movimento cultural hip-hop.
Informando sobre o desenvolvimento de práticas sociais de usos da linguagem escrita e oral, em contextos sociais e culturais não escolares, apresentando o hip-hop como uma agência de letramento emergente e os possíveis efeitos desses engajamentos na configuração dos sujeitos como agentes comunitários de letramento.
O livro aponta para a diversidade de práticas letradas que conformam a realidade brasileira e confronta as grandes desigualdades existentes entre grupos, segundo sua origem social, escolaridade, inserção profissional, faixa etária, gênero, raça.
Mostra também que a compreensão dessa complexidade e, principalmente, as possibilidades de mudança nas práticas letradas dos sujeitos são reais. Desse modo, em Letramentos de reexistência, vemos uma escola contestada, mas também deslocada a favor dos jovens, quando eles conseguem repensar e atribuir sentidos sociais à instituição.

Letramento de reexistência, poesia, grafite, música, dança: Hip Hop
De  Ana Lúcia Silva Souza
Editora  Parábola

domingo, 14 de julho de 2013

Pré-produção do FloreSendo Ideias




Domingo (14), reunião de número (???) trocentos rs, de pré-produção da 2ª edição do FloreSendo Ideias - Juventude,Hip Hop e outras conversas. Hoje foi o dia de receber confirmações das cartas convite e solicitar release dos artistas e atrações convidadas. Muitas ideias e uma ótima energia, mesmo Gabi com o uma luxação no pé esquerdo a correria continua.

sábado, 13 de julho de 2013

Dia Mundial do Rock ‘n Roll ocupa hoje o Nascedouro de Peixinhos



Diversos eventos acontecem hoje no Recife em comemoração ao Dia Mundial do Rock n’ Roll, entre eles o Ocupe Nascedouro, a partir das 16h no Centro Cultural Nascedouro de Peixinhos em Peixinhos, Olinda. A festa conta com os shows de Matalanamão, Magnatas da Beira Mar, Ataque Suicida, Capim Santo, Fantasma e Sem Nome. Realização Cena Peixinhos.


Contatos: 81. 8804-8604 / 8835-5456

Lançamento do Coletivo Primeiro Degrau hoje em Moreno (PE)


A cidade de Moreno, na Região Metropolitana do Recife, recebe nesse sábado (13) o show de lançamento oficial do Coletivo Primeiro Degrau. O grupo, que atua na cena local Hip Hop e realiza o evento em comemoração ao Dia Mundial do Rock n’ Roll. O evento, que acontece na Praça da Bandeira, no centro de Moreno, contará com Cine Clube Moscouzinho, além de shows com Triofônico, Sr. Cabeça, Acesso Final e participações dos rappers Kleber Magrão, Rapper AfroB, Aliados CP e Dj PauloV.

Serviço: 13/07/13 – sábado 19h
Praça da Bandeira, centro de Moreno

Entrada franca

Eliminatórias do Duelo de MCs ocorre hoje no Recife




Neste sábado (13), no Clube Atlântico de Olinda, Recife recebe as eliminatórias regionais do Duelo de MCs Nacional, realizado pela Família Rua, coletivo de Belo Horizonte. Oito MCs locais disputam uma vaga na grande final nacional, que acontece no segundo semestre, em BH. Os DJs Beto, Roger Dee (BH) e Antoom (Bélgica) animam a festa, que ainda recebe os shows de Monge MC (BH) e Gustavo Pontual. Até aqui o projeto já visitou Salvador, Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Vitória e Belém. Depois de passar por Recife, a caravana encerra as etapas de eliminatórias no Rio de Janeiro.

Serviço: 13/07/13 – sábado - 15h
Clube Atlântico de Olinda (Próximo à Praça do Carmo)
AV. DR. Manoel de Barros Lima – 884/948 – Carmo (Olinda)
Entrada Franca (Sujeito à lotação do espaço)